O Reino inteiro pareceu suspirar quando aquele artefato atravessou o portal antes do previsto. Em FAR, há um ditado antigo que diz: “O tempo não erra, apenas se dobra.” E foi exatamente o que aconteceu naquele entardecer. O Grimório Fora do Tempo não deveria estar ali, repousando em uma pedra coberta de musgo dourado, mas estava. Como se o próprio Reino tivesse escolhido acelerar a roda apenas por um instante, abrindo passagem para que algo escapasse.

Os Guardiões sentiram a mudança. Mestre Northwind percebeu o vento mudar de direção, trazendo presságios de jornadas antecipadas. Aurora Dente-de-Luz notou uma flor abrir fora de estação em seus jardins. Sandy Pluma de Ouro viu reflexos diferentes nas águas do lago, como se futuros possíveis tivessem se cruzado. E Morgana Neveflor, em silêncio, sabia que aquela travessura do tempo não era erro, mas convite.

Porque às vezes, é preciso que algo chegue antes, para nos lembrar de que não estamos presas ao calendário dos relógios, mas ao compasso da alma.

Elena, ainda atônita diante do Grimório, não compreendia a extensão do que havia acontecido. Mas sentia. A cada página que folheava, era como se o artefato sussurrasse: escreva, registre, dê forma ao invisível. Ele não era apenas feito para ela, mas para todas aquelas que já haviam se sentido deslocadas, atrasadas, adiantadas demais, ou fora de compasso com o mundo.

Porque todas conhecem essa sensação de estar “fora do tempo”.

É quando olhamos para trás e sentimos que deveríamos ter feito diferente.
É quando olhamos para frente e a ansiedade do futuro nos sufoca.
É quando nos comparamos com os outros e acreditamos que estamos atrasadas em relação à vida.

Mas o Grimório Fora do Tempo nos lembra que não existe atraso, nem adiantamento. Existe apenas o agora. E que escrever é uma forma de reconciliar-se com ele.

Em FAR, os artefatos sempre chegam na hora certa. Mas, neste dia incomum, o Reino permitiu que um deles viesse antes. Talvez porque algumas Crédulas já estivessem prontas. Talvez porque alguém precisasse da coragem de começar hoje, e não esperar pelo mês que vem, pela segunda-feira ideal, pelo novo ano que nunca chega.

Morgana Neveflor registrou em seus próprios manuscritos: “Este dia ficará marcado na memória de FAR como o dia em que o tempo ousou brincar de liberdade. E que bom que ousou, pois a liberdade sempre vale a travessia.”

E assim, o Grimório Fora do Tempo se tornou símbolo não apenas de escrita, mas de libertação. Um lembrete de que cada página pode ser atravessada como um portal, não importando se você está alinhada ao calendário, às fases da lua, ou às expectativas do mundo. Ele é o lugar onde você pode escrever para a mulher que você foi, para a que você é, e para a que você ainda vai se tornar.

Elena segurava o artefato com reverência, mas o Grimório não era só dela. Era de todas que ousassem atravessar o portal sem hesitar. Era de cada Crédula que escolhesse escrever sua história agora, sem esperar pelo momento perfeito.

E talvez seja por isso que o Reino inteiro silenciou. Porque sabiam que logo o Grimório voltaria para FAR, mas até lá, quem tivesse coragem de recebê-lo poderia experimentar a magia de viver um tempo que não se curva às horas — um tempo que simplesmente é.

E assim, a crônica se encerra, com o lembrete de que o extraordinário sempre acontece fora do tempo.

O Grimório Fora do Tempo está disponível apenas até 05/09, em tiragem limitada. Depois dessa data, ele retorna para o Reino de FAR, e novos artefatos se apresentarão.

 

📜 Aqui, cada história é um feitiço. Cada artefato, um portal.